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Foto do escritorIlana Majerowicz

Pertencemos à vida ou vivemos como se ela nos pertencesse?



Depois dos 30 anos algo foi mudando dentro de mim em relação ao que eu entendia da vida. Até então, via um mundo de possibilidades e experiências que eu escolhia viver para me conhecer. Um processo de reconhecimento da minha individualidade no mundo. Já que na escola e faculdade eu tive pouca oportunidade para de fato refletir sobre quem sou, quais são meus talentos, o que gosto, e o que faz sentido para mim, busquei isso na segunda metade dos meus 20 anos. Daí entendi que esse processo de se autoconhecer é constante na vida, ele não chega num lugar específico, mas de alguma forma essa formação identitária é bem necessária para caminharmos com mais autonomia pelo mundo.


Até que cheguei num ponto, uma virada que vejo que estamos ainda menos preparados para viver, se dar conta da finitude da vida! Ao menos assim como a percebia…

Com essa sensação vem a vontade de reproduzir a vida, de continuá-la através de outros seres humaninhos que damos à luz e sem perceber a própria visão da vida se expande. Vem a percepção de que a vida é finita para uma compreensão individualista de mundo, de um sujeito que tem (possui) uma vida, mas que em uma perspectiva sistêmica, a vida é muito maior que um eu. Talvez se dar conta e agir a partir disso seja o tornar-se adulto.

Se a vida é maior que eu, a ideia de que posso controlá-la ou controlar a do outro só pode ser uma ilusão!

Com isso chego nos pontos que queria chegar. Em contato com jovens tenho visto como o tema de suicídio parece estar epidêmico entre eles. Ao me dar conta da profundidade disso tudo, entrei em contato com a pulsão de morte. De repente parecia que o caminho que estamos construindo como sociedade chegou ao fim. Ao ver que a próxima geração não está enxergando um futuro eu me dei conta do incrível abismo que estamos criando sob nossos pés.


Passei uns dias com uma angústia enorme no peito, que eu tentava disfarçar, até que resolvi sentir. E foi aí que algo começou a fluir. A ficha que caiu é que quando não completamos os ciclos naturais da vida e estagnamos em algum deles, começamos a matar a vida. Por que a vida precisa cumprir seus ciclos de nascer-crescer-ser-morrer.

Então, como sociedade escolhemos estagnar no crescer. CRESCER. Essa fase adolescente em que acreditamos que precisamos nos autoafirmar para ser alguém. Que precisamos pertencer a um grupo e excluir outros.

Temos uma sociedade formada por adultos que escolhem viver como adolescentes (vide nosso presidente). Que escolhem viver como se não houvesse amanhã, como se fosse um sujeito separado, que precisa manter e proteger apenas a sua própria existência. Seu próprio dinheiro, sua própria casa, sua própria família…. preocupados em manter uma imagem, um poder, tirando selfies, se submetendo em seus empregos assim como fizeram na escola e ainda competindo com o colega.


Imagino que para um adolescente hoje seja bem difícil enxergar um futuro mesmo. Nós estamos tirando o seu futuro nos resignando em manter nossa adolescência eterna. Nos apropriando de nossas vidas como um belo filme de comédia romântica em que ninguém morre no final e termina com felizes para sempre. Que não percebe o quanto nossas ações estão impactando todo o planeta. Estamos falhando em dar um exemplo de humanidade adulta, de acolhê-los nesse mundo, de escutá-los verdadeiramente e de criar um ambiente propício para o seu próprio desenvolvimento.


Estamos falhando em perceber como nosso comportamento hoje definirá o futuro das próximas gerações e tomar nossa responsabilidade de sair da fase de crescimento eterno para abrir espaço pro SER. Precisamos realizar uma sociedade conectada ao ciclo original da vida. Se não, continuaremos a achar que a vida nos pertence, e que por isso cabe ao indivíduo decidir vivê-la ou não.


Ilana Majerowicz 04.08.2019

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