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Foto do escritorIlana Majerowicz

Descondicionando Sonhos de Projetos


Precisamos parar de acreditar que sonhos precisam se tornar projetos, ao menos projetos da forma cartesiana como entendemos.

O que quero dizer é que o sonho é como uma criança, ele já é! Ele não precisa ser formatado, ele precisa de atenção, conexão, nutrição e contenção para crescer na sua maior potência. Ele vem à consciência na sua perfeição, em sua potência para nos despertar um movimento.


Na consciência ele vem em imagens, em palavras, narrativas, ideias, teorias, coisas que podemos dar significado. Mas essa é a função da consciência, nos ajudar a dar significado ao que nosso inconsciente quer. Mas daí fixamos nessa imagem, resolvemos alcançar aquilo que idealizamos na mente e é aí que matamos o sonho.


O sonho é chama, é a intuição, é uma conversa entre o ser e o mundo. É o ser que te habita mostrando a direção. Quando tentamos seguir as imagens que esse sonho projeta na nossa mente, paramos de seguir o sonho e começamos a perseguir um ideal. Queremos moldar o que está fora, o ambiente e as pessoas, para que se torne uma representação mais próxima da ideia que nós projetamos. Vira controle.


O sonho é teu guia, ele não precisa ser o novo projeto com um propósito lindo, ele não precisa ser a sua fonte de renda, ele não precisa ser um novo empreendimento que vai bombar, à menos que isso tudo seja um resultado e não a meta.


Há uns anos atrás quando realizei um documentário sobre Ecovilas, percebi no caminho que meu sonho não era realizar um documentário sobre Ecovilas, era simplesmente viver esse experiência, seguir o que meu coração estava pedindo. Foi a primeira vez que vivi a sensação real dessa magia que dizem: “quando você segue seu sonho o mundo vai se abrindo” “o universo conspira”. Não precisa nem ser muito "harebo" pra isso, é só estar aberto para as oportunidades que chegam, estar aberto para as relações que se apresentam, aberto a cocriar com o que o mundo tá te dando. A partir daí a realização vai se desenhando, vai surgindo e vai tomando forma.


No final do ano passado, fiz uma meditação para me conectar com o sonho para o meu novo ano. Por incrível que pareceu para mim, sempre sonhadora e realizadora de projetos, não surgiu nenhum novo projeto, não surgiu uma necessidade de criar algo para fora. Surgiu a necessidade de contração, de criar algo para dentro. Aprender a estar só comigo, aprender a me dar acolhimento, aprender a cuidar de mim a da minha casa e assim as coisas foram surgindo, o apartamento, os processos criativos, de autocuidado e autoconhecimento, fui aprendendo a confiar no processo, passar por cada etapa do ciclo sem adiantar nada. Eu que sempre gostei de estar com muita gente, de viver em comunidade, me recolhi. O sonho veio como um chamado que parecia ir na contramão do que o meu Eu estava buscando, mas veio para me ensinar a estar inteira para estar com o outro, para estar em grupo e me deixar mais próxima do meu propósito.


Na cultura aborígene, entende-se que quando uma pessoa para de sonhar essa pessoa está morta. Que nesse fim de ano, a gente possa se conectar com nossos sonhos, aprender a não matá-los antes da hora, para não morrer em vida. Escreve teu sonho no papel, medita, mentaliza, faça seu ritual, o que for melhor para você e guarde esse papel. Esqueça ele numa gaveta. Abra e leia de vez em quando para se reconectar com esse momento quando se sentir perdida ou quando sentir que esse sonho se realizou e esse ciclo se fechou. Mas entrega qualquer expectativa e deixe a existência fazer a sua parte.


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